A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) fez uma aparição na Câmara dos Deputados que causou surpresa e estranhamento entre parlamentares e civis, na quarta-feira (30).
Autoridades, populares e membros de entidades estavam reunidos para o lançamento da Frente Parlamentar Mista de Combate às Desigualdades, no Salão Nobre da Casa, quando a deputada adentrou o espaço. A cerimônia já havia sido iniciada, e todos os presentes se encontrava m sentados.
Zambelli, então, se dirigiu ao deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) para cochichar em seu ouvido. Logo em seguida, deixou o local. Participantes da solenidade relataram ter estranhado o gesto tumultuado, que não teria feito sentido e não foi explicado para quem presenciou a cena.
À coluna, pessoas próximas de Boulos afirmam que a deputada bolsonarista teria expressado seu apoio ao deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ), que recentemente teve suas contas bloqueadas e recebeu multa de R$ 1 milhão por determinação da Justiça.
A decisão é de autoria do juiz Sergio Roberto Emilio Louzada, da 2ª Vara Cível de Nova Friburgo (RJ). De acordo com o magistrado, Braga teria descumprido uma liminar que impedia a realização de um ato em Lumiar, no Rio, em solidariedade à deputada estadual Marina do MST (PT), que foi agredida durante evento na região.
Nas redes sociais, Braga compartilhou uma foto em que mostra que uma de suas contas bancárias, destinada a ressarcimentos da Câmara dos Deputados, teve o saldo zerado e acumulou uma dívida de R$ 955.317, 27 em função da decisão.
“Não sou patrimonialista. O que recebo é utilizado para pagar as minhas contas, da minha família e para luta política. Agora, eu pergunto: é justo o juiz Sergio Louzada me aplicar uma multa absurda de 1 milhão de reais e ir descontando cada real do salário até zerar a conta?”, escreveu.
“Ele afirma que eu afrontei o Judiciário ao dizer que o cancelamento do ato de solidariedade à deputada Marina do MST era um absurdo”, afirmou ainda. “A obrigação do juiz era garantir a realização do ato pacífico que vários coletivos estavam organizando”, completou.
O caso do deputado do PSOL mobilizou deputados alinhados à esquerda e à direita. A própria Zambelli sugeriu ao líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu (PR), a criação de um grupo suprapartidário para tratar do assunto, além de ter levado o tema ao presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL).
Procurada pela reportagem, a deputada afirma que buscou Boulos enquanto líder do PSOL para alertá-lo de que é preciso conversar com Lira sobre a questão. “A gente precisa se pronunciar a respeito disso porque está acontecendo com a direita e com a esquerda”, afirma.
Zambelli explica que os deputados possuem uma conta-salário e uma conta destinada exclusivamente a ressarcimentos feitos pela Casa. Essa última é usada para pagar passagens aéreas, alugueis de carro e outros tipos de despesas tidas com a atividade parlamentar.
“É um ressarcimento que é nosso, mas é um dinheiro público ao mesmo tempo”, afirma a deputada. “Sem aquela conta girando, você não consegue comprar passagem, não consegue trabalhar”, diz ainda.
A parlamentar cita o caso do deputado federal Vermelho (PL-PR), que teria tido tanto a conta-salário quanto a conta de ressarcimento bloqueadas após uma ação judicial.
“Aconteceu com o Daniel Silveira, aconteceu com vários de nós. Quase todo deputado que tomou uma multa já teve essa conta de ressarcimento bloqueada porque [ela] está no nosso CPF”, afirma.
Zambelli ainda diz que não encontrou Glauber Braga para tratar do assunto, mas defende que seus colegas de Câmara se pronunciem sobre o tema. “Isso é um problema para a nossa função de parlamentar, e o Lira tem que nos defender em relação a isso. Meu ponto é esse”, afirma.
“Acho que, independentemente de eu não aprovar absolutamente nada do que o Glauber Braga pense, de a gente estar completamente em lados opostos, tem certas injustiças que não podem acontecer”, finaliza.
Além dela, o deputado federal Cabo Gilberto Silva (PL-PB), também um bolsonarista, já pediu apoio dos colegas para aprovar um projeto que garanta que decisões da Justiça como a que atingiu Braga passem pelo crivo da Câmara antes de sua execução.