O deputado ultraliberal Javier Milei surpreendeu e largou na frente das duas principais forças políticas da Argentina neste domingo (13). Com cerca de 65% das urnas apuradas, o autointitulado “anarcocapitalista” registra 32,1% dos votos válidos, contra 27,7% da soma da coalizão de direita Juntos por el Cambio e 25,8% da aliança peronista União pela Pátria.
Já na disputa pela vaga interna do Juntos por el Cambio, a candidata linha-dura Patricia Bullrich garante por enquanto uma vaga no primeiro turno de outubro, registrando 17% contra 10,7% de Horacio Larreta, chefe de governo de Buenos Aires considerado mais moderado.
Enquanto isso, o ministro da Economia, Sergio Massa, vai confirmando as previsões do pior resultado do peronismo em 12 anos de eleições primárias, com 20,8%.
Os números até aqui fazem cair por terra a ideia de que Milei vinha se desidratando nos últimos meses. Líder da coalizão A Liberdade Avança, o político se apresenta como um candidato da terceira via, “diferente de tudo o que está aí”. Suas principais bandeiras são a oposição à política tradicional, além de um neoliberalismo radical.
Esse posicionamento, além da forma agressiva como se coloca, rendeu ao ultradireitista a alcunha de “Bolsonaro argentino” —uma associação reforçada pela proximidade do político com um dos filhos do ex-presidente brasileiro, Eduardo Bolsonaro.
Na juventude, além de encabeçar uma banda cover dos Rolling Stones, foi goleiro do time portenho Chacarita. Ganhou fama como comentarista de economia na imprensa até que, em 2021, foi eleito deputado federal por Buenos Aires. Sua atuação na Câmara é mínima, e ele sorteia de tempos em tempos o salário que ganha como parlamentar.
Suas propostas para a área econômica, que incluem substituir o peso argentino pelo dólar e fechar o Banco Central, colaboraram para a alavancar sua candidatura, já que ele foi um dos poucos presidenciáveis a abordar diretamente na campanha a inflação de 116% anual e os índices de pobreza acima dos 40% que tanto afligem a população.
Também Bullrich, na frente na coalizão Juntos por El Cambio, aposta no liberalismo econômico. Repete que vai reduzir os gastos do Estado e derrubar as restrições à compra de dólares. Sua campanha ainda aborda outra das maiores aflições da população hoje, a violência, com propostas punitivistas na segurança pública —como a construção de prisões de segurança máxima e maiores punições para infratores acima de 14 anos.
Se as tendências se confirmarem, este será um resultado histórico para uma eleição primária no país. Desde que o pleito foi implementado, em 2011, as alianças peronistas sempre acumularam as maiores porcentagens de votos.
As eleições deste domingo, conhecidas como Paso (Primárias Abertas, Simultâneas e Obrigatórias), têm como função solucionar eventuais disputas internas de um mesmo partido, convocando os próprios eleitores a escolherem os candidatos que representarão a legenda que apoiam no pleito oficial.
Esta edição da votação foi marcada por críticas generalizadas à organização dos centros eleitorais de Buenos Aires. A capital votou em listas de papel para as eleições nacionais e em urnas eletrônicas para o pleito local, o que causou longas filas por dúvidas sobre como utilizar a máquina e falhas nos equipamentos.
Isso fez a contagem dos resultados atrasar. Além dos postulantes à Presidência, os argentinos decidiram ainda os candidatos que concorrerão a um terço do Senado, metade da Câmara de Deputados e a governos importantes, como o da província e da cidade de Buenos Aires.