O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira (11), em seu último encontro de 2024, fazer uma alta de juros mais agressiva e elevou a taxa básica (Selic) em 1 ponto percentual, de 11,25% para 12,25% ao ano. A decisão foi unânime.
No comunicado, o colegiado do BC antecipou um choque de juros, prevendo mais dois aumentos de mesma intensidade nas próximas reuniões, de janeiro e março, o que levaria os juros a 14,25% ao ano.
“Diante de um cenário mais adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões”, disse.
A decisão marca a despedida de Roberto Campos Neto do comando do colegiado do BC. A partir de janeiro de 2025, o posto será ocupado por Gabriel Galípolo –nome de confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O Copom voltará a se reunir nos dias 28 e 29 de janeiro, com a estreia de três novos integrantes –diretores Nilton David (Política Monetária), Gilneu Vivan (Regulação) e Izabela Correa (Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta). A partir do ano que vem, o comitê terá maioria dos representantes indicados por Lula, com sete dos nove membros.
A aceleração do ritmo de alta da Selic era esperada pelo mercado financeiro. Mas, segundo levantamento feito pela Bloomberg, a maioria dos economistas consultados projetava uma elevação de 0,75 ponto, enquanto a parcela minoritária apostava em um aumento de 1 ponto percentual.
O ciclo de alta de juros teve início em setembro, quando o comitê optou por um movimento mais gradual, de elevação da Selic de 0,25 ponto percentual (a primeira no governo Lula 3). No último encontro, em novembro, o colegiado acelerou o passo pela primeira vez, com um aumento de 0,5 ponto na taxa básica.
Com a terceira alta seguida, os juros se igualam ao mesmo patamar de 13 de dezembro do ano passado, quando a Selic estava em 12,25%. Na época, contudo, a taxa básica seguia trajetória em direção oposta, com o processo de flexibilização de juros em curso.
Nas últimas semanas, os agentes econômicos passaram a apostar na necessidade de um choque ainda maior de juros em meio à piora adicional das expectativas de inflação.
A onda de revisões refletiu a frustração dos agentes econômicos com o pacote de contenção de despesas apresentado pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda), a disparada do dólar, que rompeu a barreira dos R$ 6, e a nova demonstração de força do PIB (Produto Interno Bruto).
Dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostraram que a economia brasileira cresceu 0,9% no terceiro trimestre e que a inflação, no acumulado de 12 meses, ganhou força e acelerou a 4,87% até novembro.
Segundo o último boletim Focus, os analistas já projetam que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) fique acima do teto da meta neste ano e também em 2025 –4,84% e 4,59%, respectivamente. Para 2026, a estimativa subiu para 4%.
O alvo central perseguido pelo BC é 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que a meta é considerada cumprida se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).
O BC trabalha agora com a inflação do 2º trimestre de 2026 na mira, conforme o sistema de meta contínua, devido aos efeitos defasados da política monetária sobre a economia.
Se a projeção de estouro da inflação deste ano se confirmar, Galípolo será obrigado a escrever uma carta aberta a Haddad logo após assumir o comando do BC.