O deputado federal Jorge Solla (PT) comemorou na última sexta-feira (4), em entrevista à Rádio Sociedade, a conversão do Hospital Espanhol para a rede do Sistema Único de Saúde (SUS). A unidade será reaberta com 246 leitos, sendo 70 de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), conforme anunciado pelo governador Jerônimo Rodrigues (PT).
Para Solla, contudo, não há razões para mudar o nome da unidade para Hospital Dois de Julho. Apesar de reconhecer a importante luta pela Independência na Bahia, o petista acredita que o nome do Hospital Espanhol carrega consigo o peso da tradição e trajetória de imigrantes espanhóis que deixaram a Europa, à época em crise, transformando a Bahia na terceira maior comunidade espanhola do Brasil, sendo a maior proporcionalmente em galegos.
Segundo o parlamentar, o governo poderia ter se empenhado em rebatizar o Aeroporto de Salvador, que teve o nome mudado para Aeroporto Luís Eduardo Magalhães em 1998 em homenagem ao falecido filho do então senador Antônio Carlos Magalhães.
“Assim como o aeroporto ainda é conhecido como Aeroporto Dois de Julho, o Hospital Espanhol sempre será Hospital Espanhol. Fico muito feliz com a conversão dele para o SUS, mas mudar o nome é um desrespeito à toda história desta unidade. Quantas pessoas nasceram ou foram atendidas e tem essa memória afetiva?”, disse o deputado.
A história do Hospital Espanhol é antiga e remonta à imigração em massa de espanhóis, em sua maioria da região da Galícia, para o Brasil, a partir do fim do século XIX.
Em 1885, foi fundada onde hoje é a Unidade de Saúde Ramiro Azevedo, no Campo da Pólvora, a Sociedade Espanhola de Beneficência. A instituição nasce com o objetivo de acolher os espanhóis que chegaram ao país em condições precárias e trabalhavam normalmente no comércio de gêneros alimentícios, sujeitos a cargas horárias exaustivas e acometidos de doenças como a tuberculose, que se espalhava na época.
Dois anos depois, em 1897, os 124 membros da colônia compraram, em um leilão, um terreno localizado no bairro da Barra, que até então ficava distante da região central da capital baiana. Em 1910, foi instalada a primeira enfermaria na unidade, com capacidade para nove camas, sendo ampliado mais tarde, em 1925, e passando por sucessivas reformas até o seu fechamento em 2014.
Durante a pandemia de Covid-19, o hospital foi convertido em uma unidade de atendimento para pacientes com a doença, mais uma vez mostrando a sua capacidade de ser um local crucial para comportar a demanda da saúde em Salvador.
O deputado diz que a comunidade espanhola, contrária à alteração do nome, em Salvador também reagiu à mudança.
“Recebi muitas mensagens de colegas, pessoas que pertencem à comunidade e que se revoltaram com a mudança. Estavam todos ansiosos para reabertura, mas não esperavam que iria deixar de ser o Hospital Espanhol como conheceram”, acrescentou.
Solla sugeriu que outro equipamento leve o nome da data que consolidou a Independência do país com a expulsão definitiva das tropas portuguesas.
“Poderia colocar o nome de Hospital Dois de Julho no Hospital Metropolitano de Salvador, aberto em 2021, e que atende toda a região, o que, inclusive, conversa com o processo de Independência que nasce no Recôncavo baiano e vem ser consolidado na capital”, sugere.
Presidente do Galícia Esporte Clube, fundado em 1933 por imigrantes galegos na Bahia, Manolo Muiños, também demonstrou insatisfação com a medida.
“Eu fiquei indignado, acho que tem instituições que você precisa respeitar o nome. O Hospital Espanhol tem mais de 100 anos, teve erros de gestão no passado, e vai ajudar muito o SUS, com certeza. Mas não tem necessidade dessa troca de um lugar que sempre foi conhecido pela população baiana”, opinou.
“Salvador é a cidade com a maior colônia galega no Brasil, me parece somente um capricho e não cabe isso. Acho que poderiam fazer de outra maneira”, concluiu.