A Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA) realizou, nesta segunda-feira (7), um tributo póstumo à jornalista Wanda Chase, com a presença de amigos, admiradores, colegas de profissão e ativistas do movimento negro e da cultura na Bahia. A sessão especial foi dirigida pela presidente da Casa, deputada Ivana Bastos, que conduziu a cerimônia de entrega, in memoriam, do Título de Cidadã Baiana a familiares da homenageada, que faleceu na última quinta-feira (3). A honraria foi proposta pela Bancada do PT, liderada pela deputada Fátima Nunes (PT), e a solenidade prestigiada pelos deputados Marcelino Galo (PT), Maria del Carmen (PT), Olívia Santana (PC do B), Marcone Amaral (PSD), Ludmilla Fiscina (PV) e Raimundinho da JR (PL).
Antes do início da cerimônia, a presidente Ivana Bastos, em um gesto de acolhimento, prestou condolências aos familiares, dispostos na primeira fila do Plenário Orlando Spinola – os irmãos Nair, Thelma, Jefferson e Carlos, além dos sobrinhos Carlos Jefferson e Amado, este acompanhado da esposa Luana Alves. Depois, ratificou em pronunciamento, dirigindo-se “à família de Wanda Chase, que nos honra com sua presença: recebam, neste momento, não apenas o título simbólico que o Estado da Bahia entrega a essa grande mulher. Recebam também o nosso afeto, o nosso abraço coletivo e a certeza de que ela vive. Vive em cada canto de Salvador, nas redações, nas telas, nas salas de aula, nas lutas do povo preto e no coração de cada profissional”.
A coincidência da homenagem no Dia do Jornalista foi ressaltada pela presidente da ALBA, “uma coincidência carregada de simbolismo, como se o tempo também quisesse prestar sua reverência à mulher que fez do jornalismo não apenas profissão, mas missão de vida”, destacou, parabenizando todos os profissionais da Bahia e do Brasil “que, como Wanda, enfrentam os desafios diários de informar com ética, coragem e compromisso com a verdade”. A chefe do Parlamento baiano definiu a solenidade como “um instante de memória, reverência e ternura silenciada pela ausência (…) de uma mulher que fez da palavra sua arma, do microfone seu altar, e da luta pela justiça sua missão”.
A canção “Dora” (Dorival Caymmi), predileta da jornalista por ser o nome da sua mãe, foi escolhida pela Bancada do PT como trilha de vídeo exibido na sessão, com imagens da homenageada em momentos de trabalho e cobertura com artistas baianos, blocos afros e carnavais. Líder da Bancada e proponente, Fátima Nunes falou sobre a “brilhante trajetória da comunicadora Wanda Chase, que, nascida no Amazonas, chegou a esta terra em 1988, trazendo consigo a energia da juventude e a coragem de buscar um novo começo”, tendo trabalhado na TV Bahia por 27 anos, depois TV Aratu, TVE, assessoria do Olodum, entre outros veículos.
A petista lembrou que, inicialmente, a honraria estava programada para o dia 13 de março, data escolhida pela própria Wanda, que adiou o evento por estar se recuperando de uma virose. “Wanda era a face negra na televisão, em um tempo em que o racismo estrutural invisibilizava profissionais pretas como ela e naturalizava a branquitude absoluta em telejornais, novelas e programas de auditório”, enalteceu Fátima Nunes, ressaltando que seu exemplo “abriu caminho na mídia televisiva para milhares de outras mulheres negras das gerações seguintes”.
Em nome da família, Nair Chase agradeceu ao Parlamento baiano a homenagem, relatando que a irmã, descendente de maranhenses e barbadianos, ao ser levada ao centro cirúrgico, fez uma última homenagem a Barbados, país do Caribe de onde vieram seus antepassados, contando, para a equipe que a levava, as suas origens, a história de Barbados, e também o significado da palavra ‘Chase’, em português caçar, “atribuindo-lhe o sentido de buscar a informação, com toda atenção e precisão que um caçador precisa exercer para alcançar seu objetivo. Esse espírito de busca e precisão foi algo que Wanda sempre aplicou em sua atuação como jornalista e ativista, na defesa das causas que tanto abraçou”.
Nair Chase revelou a alegria de sua irmã em valorizar compositores, além de impulsionar comunidades e grupos, a exemplo dos blocos afro, artistas em início de carreira e jornalistas iniciantes. “Wanda amou a Bahia como amou sua terra natal, o Amazonas, mas foi aqui que escolheu para viver, por identificar-se com o povo negro, fazendo dessa causa uma de suas bandeiras de luta”, disse.
A sessão especial contou com a força de versos de canções prediletas da jornalista, como Evangelização (Gibi), executada à capela pelo cantor e compositor Tonho Matéria: “Não vê que é preciso converter o inconsciente / Abrindo o coração, Olodum, de toda essa gente / Para renascer o amor”. Também compuseram o repertório Sorriso Negro (Adilson Reis Dos Santos / Jair Carvalho / Jorge Ribeiro) e Toda Menina Baiana (Gilberto Gil), defendidas pelo cantor Adson.
Também tiveram assento na mesa da sessão especial a secretária estadual de Políticas para as Mulheres, Neusa Cadore, representando o governador Jerônimo Rodrigues; o presidente da Associação Baiana de Imprensa (ABI), Ernesto Marques; a vice-presidente do Sinjorba, Fernanda Venâncio; e os jornalistas Osmar Marrom Martins, Casemiro Neto e Georgina Maynart.