“Se o coração de Wagner puder falar por ele, a escolha será por meu nome”, diz Geraldo Júnior

O vice-governador Geraldo Júnior (MDB) está confiante em que deve ser o escolhido da base do Executivo estadual para disputar a prefeitura de Salvador em 2024. Ele acredita que a decisão pode sair ainda na primeira quinzena do mês de outubro, em processo liderado pelo governador Jerônimo Rodrigues (PT).

Nesta entrevista exclusiva concedida ao Política Livre na última quarta-feira (27), após um evento de filiações de lideranças do interior na sede do MDB baiano, em Salvador, Geraldo Júnior cita, entre os que ainda estão no páreo na briga para concorrer ao Palácio Thomé de Souza, os nomes dos deputados estaduais Robinson Almeida (PT) e Olivia Santana (PCdoB). O emedebista, que defende a unidade da base, afirma que um dos critérios para a escolha deve ser o histórico político na cidade.

O vice-governador, que foi por quatro mandatos vereador da capital, trata ainda da relação com o presidente da Câmara Municipal, Carlos Muniz (PSDB), e com o próprio prefeito Bruno Reis (União), além de fazer críticas ao antecessor ACM Neto (União). Sobre a situação do vereador Alfredo Mangueira (MDB), Geraldo Júnior defende a saída do edil da sigla.

Confira abaixo a entrevista:

Política Livre – Depois da saída de cena do presidente da Conder, José Trindade (PSB), seu nome passou a ser visto como o favorito para disputar a Prefeitura de Salvador como candidato da base do governo do Estado. Está confiante?

Geraldo Júnior – Primeiro, quero dizer da satisfação de estar no MDB. Fiz hoje aqui um agradecimento a Geddel (Vieira Lima), a Lúcio (Vieira Lima) e Alex Fufuca (presidente estadual da legenda), demonstrando esse sentimento de reciprocidade, de lealdade. Falei que agradecia a Deus, em primeiro lugar, e ao MDB por ser vice-governador. Você sabe que quando fiquei sem partido recebi convites para entrar em vários partidos, inclusive grandes no cenário nacional, mas nenhum me daria a possibilidade de tanta envergadura e de tanta independência como o MDB me dá. O MDB me fez vice-governador da Bahia e agora me dá a oportunidade disputar uma eleição para prefeito. Temos um alinhamento com o governador, fazemos parte do grupo liderado por Jerônimo, e vamos buscar a unidade. Logicamente que se a unidade for em torno do meu nome a satisfação será maior. Mas se não for, que seja em torno de outro. Tenho conversado muito com Lúcio e com Geddel sobre aspectos da política de Salvador e, se essa não for a missão, nós estaremos pelo interior do Estado fortalecendo o partido nos 417 municípios.

Vai ter tempo de ir ao interior mesmo se for escolhido o candidato em Salvador?

Eu preciso ter esse tempo. Nossas lideranças que deram a nossa vitória em 2022 esperam por isso. É hora de o partido retribuir dando apoio a essas pessoas nas eleições de 2024. Mesmo que eu seja o candidato a prefeito de Salvador, vamos arranjar sempre tempo para estar no interior, nos territórios, nas cidades que necessitem de uma maior atenção.

“Eu respeito os adversários, mas se eu for para as ruas de Salvador a disputa vai ser acirrada. E esses é o receio deles, dos nossos adversários”

O processo de escolha da base do governador em Salvador afunilou de fato entre o senhor e o deputado estadual Robinson Almeida (PT)? Os dois são aqueles que têm participado de praticamente todos os eventos ao lado do governador Jerônimo Rodrigues (PT).

Não necessariamente está entre mim e Robinson. Temos aí a deputada estadual Olívia Santana (PCdoB), temos Maria Marighela (presidente da Funarte, do PT), temos a Vilma Reis (socióloga e liderança petista) – ambas fora da disputa desde a escolha de Robinson pelo PT – outros candidatos, outras escolhas, outros nomes. Robinson foi indicado pré-candidato pelo PT e eu fui indicado pelo MDB. A chapa vitoriosa nas ultimas eleições foi entre o PT e o MDB, e não necessariamente isso tem que se repetir em Salvador. Nós continuamos lutando por essa unidade, só que Lúcio me ensinou uma coisa interessante: eu tenho mais receio, mais medo do constrangimento do que da morte. Então, quem não gosta de ser constrangido não constrange. A gente tem reunido os esforços para isso. O MDB nacional, inclusive, tem dito que Salvador é uma capital preferencial para 2024, como já manifestou o deputado federal Baleia Rossi (de São Paulo e presidente nacional da sigla), até pela questão do tempo de televisão, da exposição do partido. E nós acreditamos nisso. Você conhece a minha história há algum tempo e se eu entro numa partida, numa missão, me dedico de corpo e alma. Assim ocorreu nas eleições estaduais do ano passado. Eu respeito os adversários, mas se eu for para as ruas de Salvador a disputa vai ser acirrada. E esses é o receio deles, dos nossos adversários.

Na semana passada, o ex-prefeito ACM Neto disse numa coletiva que se o senhor for o candidato será um sinal de fraqueza do PT…

Eu vi e Lúcio Vieira Lima respondeu com maestria ao ex-prefeito derrotado nas últimas eleições, dizendo que agora ele vai perder não mais para o 13, mas sim para o 15. Ele não precisa mais ter tanto receio do 13.

“Sobre os critérios (para a escolha do candidato a prefeito), eu acho que (o escolhido) seja aquele ou aquela que reúna as melhores condições de fazer o enfrentamento, quem tem história nessa cidade, que conhece os problemas da cidade, os pontos negativos e positivos da atual gestão, quem faz política na capital”

Qual foi, em sua opinião, o peso do MDB na vitória de Jerônimo na eleição do ano passado? Isso pode influenciar a favor da sua escolha?

Você sabe que tanto o ex-prefeito quanto o atual tem dedicação quase que exclusiva a Salvador. A máquina do município trabalhou e trabalha forte na capital. Nós tivemos a possibilidade de nos dividir pelo Estado porque temos um grupo político forte. Em 2002, veja que, por decisão de Jerônimo e minha, nos dividimos para correr toda a Bahia. Jerônimo foi para um lado, os senadores Otto Alencar (PSD), Jaques Wagner (PT) e Ângelo Coronel foram para outros territórios, e tomamos a decisão de que eu ficaria na capital. E essa nossa permanência na capital foi que deu o enfrentamento a essa máquina. Logicamente que eles têm uma estrutura montada aqui, mas eu já falei anteriormente, e o governador já falou isso categoricamente: Salvador é uma grande prioridade para Jerônimo nesse enfrentamento de 2024. Então, estamos confiantes de conduzir esse processo.

O senhor citou aí a participação do senador Ângelo Coronel nas eleições de 2022, mas ele foi apontado quase sempre como ausente naquela disputa…

Ângelo Coronel poderia não estar fisicamente, mas estava nos bastidores, no aconselhamento, na orientação. E a orientação é muitas vezes mais importante do que a presença física.

Qual deve ser, em sua opinião, o critério para a definição do candidato em Salvador? E o nome sai em outubro mesmo?

Veja, essa definição tem que ser dada pelo governador. Às vezes, o meu tempo é diferente do tempo de cada um em nosso grupo político. O governador é um bom estrategista, mostrou que tem uma habilidade monstruosa de ganhar uma eleição, mesmo tendo sido apenas secretário de Estado por duas ocasiões e nunca ter tido um mandato. Então, ele sabe o tempo certo. Eu acho que a definição não passa da primeira quinzena de outubro. Sobre os critérios, eu acho que (o escolhido) seja aquele ou aquela que reúna as melhores condições de fazer o enfrentamento, quem tem história nessa cidade, que conhece os problemas da cidade, os pontos negativos e positivos da atual gestão, quem faz política na capital. Eu faço política em Salvador desde 1992, quando meu pai (Super Geraldo) ainda era vereador dessa cidade. A gente reúne essas condições para essa missão.

“Não sei ainda a missão que Jerônimo tem para mim em 2024. Se for ir ao interior, estarei ao lado do meu partido fortalecendo o meu partido e o meu governo. Mas ele sabe que se me deixar no comando da capital, seria uma satisfação pessoal até porque sei como funciona a política de Salvador e disputaremos com intensidade, força e competitividade”

O senador Jaques Wagner, que outro dia foi com o senhor em um evento de uma das correntes do PT na capital, teria uma preferência por seu nome nessa disputa?

Wagner foi o grande responsável, fora o meu partido, para eu estar nesse grupo politico. Wagner referendou, avalizou e fez juízo de convencimento, sentou ao lado dos líderes do meu partido, e você sabe do apreço e da confiança que deposito no senador. Acho que se o coração de Wagner puder falar por ele, a escolha será por meu nome. Logicamente que ele tem um partido, é um homem de partido, mas se ele entender que o candidato do MDB reúne melhores condições para disputarmos e ganharmos a eleição, acho que ele tem total poder de convencimento para rever esse posicionamento (do PT). Se o juiz tem o direito da reconsideração em uma decisão, por que no mundo político não pode haver? O senador Otto Alencar me ensinou uma mensagem de Mestre Bimba de que às vezes o recuar também é um golpe, e às vezes você tem que recuar no processo. Então, isso tudo na vida é um aprendizado. Não sei ainda a missão que Jerônimo tem para mim em 2024. Se for ir ao interior, estarei ao lado do meu partido fortalecendo o meu partido e o meu governo. Mas ele sabe que se me deixar no comando da capital, seria uma satisfação pessoal até porque sei como funciona a política de Salvador e disputaremos com intensidade, força e competitividade.

Em entrevista recente ao PolíticaPod, o podcast do Política Livre, o presidente da Câmara Municipal de Salvador, vereador Carlos Muniz (PSDB), de quem o senhor é próximo, disse que o grupo do governador “bate cabeça” no processo de definição do candidato na capital. Como o senhor avaliou essa declaração?

Que bom que o lado de cá bate cabeça porque são muitas cabeças que pensam e decidem. O lado de lá tem apenas uma cabeça que toma a decisão. Ele pode ter falado isso metaforicamente. Não quero interpretar o que disse o presidente Carlos Muniz, mas tenho a liberdade, pela amizade que temos, de dizer que quando ele dimensionou “bater a cabeça” significa discutir o processo. Nós ganhamos a eleição em 2022 sem tomar decisões na base do radicalismo e da força, pois aqui é uma democracia.

“Mas mesmo que eu busque a unidade e Muniz não esteja no processo tenho certeza que o coração dele estará”

Tem alguma mágoa sua em relação a Muniz, por conta do apoio dado ao presidente da Câmara à reeleição do prefeito Bruno Reis (União)?

Você já havia me perguntando isso e eu disse na época que não. Estou mais sentido pelo amigo do que pela força política de ser presidente da Câmara, porque Muniz é um dos grandes amigos que fiz na vida pública. Nós sabemos das circunstâncias que levaram ele a tomar essa decisão (de apoiar Bruno Reis). Dito por ele, eu fui o principal interlocutor da vitória dele nas eleições. Ele sabe que ninguém queria a eleição dele para a presidência da Câmara, o mundo político, empresarial, a sociedade civil, ninguém queria. E eu briguei por isso, lutei por isso. Logicamente que depois que lutei por isso as força sucessórias chegaram. Mas ele sabe que, no dimensionamento, eu dei a palavra. Inclusive, pela decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), eu estaria com o terceiro mandato de presidente da Câmara garantido. Mas gravei um vídeo, e um homem não pode voltar na sua palavra. Meu pai me ensinou que quando um homem não tem a força na palavra, ele não tem o respaldo da vida. Eu poderia ter ficado como presidente da Câmara, mas optei por uma organização partidária, pelo conselho político do nosso partido e pela decisão de enfrentar a eleição e fomos à vitória. Muniz falou de unidade, e se eu buscar a unidade agora?

Acha que ainda há possibilidade de obter o apoio dele?

Eu acho que ainda há possibilidade porque buscando a unidade o argumento vai prosperar. Ele tomou uma decisão e logicamente que essa decisão temos que respeitar. Mas mesmo que eu busque a unidade e Muniz não esteja no processo tenho certeza que o coração dele estará.

Por isso o senhor tem evitado criticar a decisão de Carlos Muniz de apoio a Bruno Reis?

Não o critiquei porque eu sou amigo e amigo de verdade sabe respeitar o limite do outro amigo. Não critiquei em nenhum momento, da mesma sorte que ele tem dito que mantém a nossa relação, que sempre foi muito boa.

“O vereador Alfredo Mangueira, a quem tenho o maior respeito, não segue as orientações do MDB. Se não segue, a tendência dele é pedir honrosamente para sair do partido para dar espaço a quem respeita o MDB e esteja ao nosso lado, defendendo as nossas proposições”

O MDB tem um vereador na Câmara Municipal, que é Alfredo Mangueira. Só que ele vota com o governo. Ele continuará no partido?

O vereador Alfredo Mangueira, a quem tenho o maior respeito, não segue as orientações do MDB. Se não segue, a tendência dele é pedir honrosamente para sair do partido para dar espaço a quem respeita o MDB e esteja ao nosso lado, defendendo as nossas proposições. Tenho o maior respeito pelo vereador, mas ele responde ao prefeito Bruno Reis e a ligação dele não é com o partido. Estou falando pela Executiva estadual do meu partido. Não há vida política sem vida partidária. Eu, mesmo como vice-governador, recebo as orientações do meu partido.

O senhor sempre teve uma boa relação com Bruno Reis, de quem até pouco tempo era aliado político. Se for escolhido o candidato do grupo de Jerônimo, como vai ser esse enfrentamento?

Você sabe o respeito que tenho ao prefeito da cidade. Começamos uma história juntos. Se entramos numa disputa política, será no mais alto nível, isso posso assegurar. Não será política de ordem pessoal, de ataques pessoais. As críticas se darão no campo do bom senso, da democracia, e não do oportunismo. Você vê que existem ex-prefeitos derrotados nas ultimas eleições que fazem críticas por fazer, sem apontar o que há de solução.

Vai haver críticas mais duras ao ex-prefeito ACM Neto?

O que o ex-prefeito tem feito nessa questão da segurança pública atrapalha o aliado dele na cidade, atrapalha o crescimento da Bahia, o desenvolvimento do Estado. Não somos do grupo do quanto pior melhor. As eleições passaram. Estamos aqui avaliando o bem dos baianos e das baianas. Em 2024, sim, vai ter novamente a disputa, que vai se dar principalmente no debate entre aqueles que são candidatos, e não com os derrotados.

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