Uma reunião realizada na véspera do dia 8 de janeiro deste ano, entre o diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Passos, e o então secretário adjunto de Segurança Pública do Distrito Federal, Fernando de Souza Oliveira, tratou do risco de invasão e depredação das sedes dos Três Poderes. O alto escalão da PF pediu ao governo local para impedir a entrada dos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na Esplanada dos Ministérios, mas Oliveira recusou, alegando se tratar de um ato “pacífico”.
De acordo com o jornal O Estado de S.Paulo, os agentes federais dispunham de relatórios comprovando o teor golpista dos atos e a escala que a mobilização tomou nos dias que antecederam o ataque. Os detalhes da reunião foram descritos em um documento enviado pela Direção-Geral da PF à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro.
O relatório esclarece que também participaram da audiência, na véspera dos ataques, a coronel da Polícia Militar, Cíntia Queiroz, e o coordenador de contrainteligência da PF, Thiago Severo, além do Comando de Operações Táticas (COT) da corporação. O ofício com detalhes da reunião é assinado pelo delegado Luiz Eduardo Navajas, que atua como chefe de gabinete de Andrei Passos.
Na reunião, Andrei manifestou preocupação com “o deslocamento de pessoas para Brasília” para participar de atos no dia seguinte “objetivando ocupar a Esplanada dos Ministérios e contestar o resultado das urnas eleitorais”. Em outro documento enviado à CPMI, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou que até o dia 7 de janeiro já haviam chegado 40 ônibus ao Quartel General do Exército na capital federal, com outros 105 veículos fretados, com 3.951 passageiros, a caminho.
De acordo com a PF, Andrei “destacou na ocasião o elevado grau de ameaça à segurança e solicitou providências visando o isolamento da Esplanada dos Ministérios de modo a impedir a aproximação daquelas pessoas que se mostravam, pelas redes sociais, inconformadas com os resultados das eleições presidenciais”. Já a Secretaria de Segurança Pública se dizia ciente da situação, garantindo ter “se planejado adequadamente para manter a segurança diante do evento anunciado”.
O documento ainda narra um embate de percepções a respeito do atos convocados para o dia 8 de janeiro. A PF argumentou que “aquela movimentação seria, em tese, por si só um ato criminoso, pois atentaria contra o estado democrático de direito, conforme legislação de regência”. Já a Secretaria alegou “que se trataria de uma simples manifestação de cunho pacífico”.
Informações chegaram a Dino, que conversou com Ibaneis
Sem um acordo satisfatório com o governo do DF, Andrei determinou o encaminhamento, ao ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), de um ofício com o relato do “cenário crítico que se apresentava e dos possíveis acontecimentos que poderiam advir”. O diretor-geral da PF sugeriu a Dino uma nova reunião com a Secretaria de Segurança Pública para “evitar maiores incidentes e atos de vandalismo, como os ocorridos em 12/12/2022”, quando manifestantes tentaram invadir a sede da PF em Brasília.
“O objetivo dessas pessoas seria reunir na capital federal grande quantidade de manifestantes que, dentre outras ações, teriam a intenção de “tomar o poder”, de “impedir a instalação do comunismo no Brasil”, sem determinarem, especificamente, quais ações adotariam ao chegar a esta capital federal para atingirem o seu intento”, alerta o documento enviado pelo diretor-geral da PF a Dino.
“Pelas informações coletadas até o momento, o grupo pretende promover ações hostis e danos contra os prédios dos Ministérios, do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal”, prosseguiu. No dia 7 de janeiro, Dino publicou no Twitter que havia conversado com o governado do DF, Ibaneis Rocha.
Em outro documento, assinado no dia 6, a coronel Cíntia Queiroz, então subsecretaria de Operações Integradas, responsável pelo planejamento da segurança dos atos, disse que era possível fechar a Esplanada “mediante acionamento da SSP”. Procurada, a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP/DF) disse que “todos os fatos relacionados à operação do dia 8 de janeiro de 2023 estão em processo de apuração”. “A SSP concluiu dizendo “que não comenta investigações em curso”.