O ditador Nicolás Maduro acusou o Itamaraty de estar vinculado ao Departamento de Estado americano e chamou um diplomata brasileiro de fascista em reação ao veto de Brasília à entrada da Venezuela no Brics, durante a cúpula do grupo em Kazan, na Rússia, na semana passada.
As declarações, que seguiram a cartilha chavista de ataque a críticos, foi feita nesta segunda-feira (28). O ditador gastou 40 minutos das 2h30 de seu programa semanal, o Con Maduro Más, para falar sobre as relações com o Brasil.
À frente de uma tela que exibia o momento em que cumprimentou o presidente da Rússia, Vladimir Putin, o líder venezuelano tentou afastar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) da polêmica, qualificada por ele de “facada nas costas”.
Na versão do ditador, funcionários brasileiros afirmaram em conversas privadas que não vetariam a entrada do país no Brics. Foi apenas quando iam anunciar a lista de convidados para entrar no grupo que a posição teria mudado, ainda de acordo com o líder.
Naquele momento, segundo Maduro, “apareceu um funcionário de obscuro e triste passado bolsonarista”. O alvo da retórica conspiracionista é Eduardo Paes Saboia, conhecido por, em 2013, ajudar o ex-senador boliviano Roger Pinto Molina a fugir da embaixada brasileira em La Paz, onde o diplomata era encarregado de negócios.
Após auxiliar Molina a se refugiar durante o governo de Evo Morales, aliado da então presidente Dilma Rousseff, Saboia ficou restrito a funções burocráticas no Itamaraty até ser nomeado chefe de gabinete de Aloysio Nunes quando o então senador virou chanceler do ex-presidente Michel Temer (2016-2018).
Maduro tampouco poupou o atual ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.
Segundo o ditador, o chanceler se assustou ao vê-lo no momento em que se despedia de Putin. “Quando ele se vira, me vê de frente e quase desmaia”, afirmou o líder, em meio a risadas da plateia. “Você vetou a Venezuela”, teria dito Maduro, segundo ele mesmo descreveu, antes de fazer uma imitação do chanceler brasileiro negando o veto, assustado.
Antes de seguir para outras pautas durante seu programa, o líder voltou sua artilharia também contra o Itamaraty —em suas palavras, “um poder dentro do poder do Brasil durante anos”.
“É uma chancelaria que conhecemos bem, que sempre conspirou contra a Venezuela”, disse. “É uma chancelaria muito vinculada ao Departamento de Estado dos Estados Unidos, desde a época do golpe de Estado contra João Goulart, na década de 1960.”
Questionado pelos apresentadores que o acompanhavam sobre Lula, histórico aliado do chavismo, Maduro foi mais comedido. “Prefiro esperar que Lula observe, esteja bem informado dos acontecimentos e, no seu momento, diga o que tem que dizer”, disse ele.
As declarações ocorrem na esteira de diversas outras declarações de autoridades venezuelanas a respeito do Brasil —todas com o mesmo teor normalmente empregado contra críticos, associados pela ditadura aos EUA.
Neste sábado, foi a vez de o procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, acusar sem provas Lula de mentir sobre o acidente doméstico que o impediu de ir à cúpula do Brics. Maduro se limitou a dizer que “no mundo dos rumores, tudo corre”, mas disse que Saab é o “funcionário com mais credibilidade da instituição com mais credibilidade da Venezuela”.
O petista teve um acidente doméstico na noite de sábado (19), quando se desequilibrou ao cortar as unhas do pé e caiu de um banco. Ele bateu a cabeça e precisou levar pontos, além de ter sofrido uma pequena hemorragia, por isso precisou passar por exames ao longo da semana e não foi à cúpula.
O Itamaraty não se pronunciou até a manhã desta terça-feira (29) a respeito das falas de Maduro. Questionado pela reportagem, o diplomata Eduardo Saboia disse que não vai dar declarações sobre o assunto.