O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou o processo de tombamento de patrimônio público sem a devida previsão orçamentária para sua manutenção. A fala fez uma menção à tragédia ocorrida na última quarta-feira (5), em Salvador, quando o teto da Igreja São Francisco desabou, vitimando uma turista de São Paulo e ferindo outras cinco pessoas. Em entrevista às rádios baianas Metrópole e Sociedade nesta quinta-feira (6), Lula destacou que diversos prédios históricos no país acabam abandonados por falta de recursos para conservação.
“Eu tenho uma bronca desse negócio de tombamento, porque em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, quando você tomba um patrimônio público, é preciso que você coloque dinheiro para manter as coisas. Eu vejo um monte de prédio tombado na Bahia, Pernambuco, Rio e São Paulo e o cidadão que fez o tombamento, que aprovou a lei na Câmara, de vereadores ou deputados, não coloca um orçamento para que isso seja conservado”, afirmou o presidente.
Lula destacou que a falta de manutenção leva os patrimônios históricos a se deteriorarem, tornando ineficaz o próprio processo de tombamento. Ele defendeu uma revisão no processo para garantir verba necessária para garantir a integridade desses locais e equipamentos.
“Você tomba e a coisa vai apodrecendo, envelhecendo e caindo. Então para quê tombar se não tem responsabilidade de cuidar? Quando há o tombamento de uma obra de arte de qualquer lugar, de um prédio qualquer ou praça qualquer, é importante que o tombamento seja acompanhado por um orçamento para que a gente tenha certeza de que aquilo foi tombado de verdade e será tombado para a história”, argumentou.
Lula também abordou a reconstrução da Praça dos Três Poderes, em Brasília, danificada durante os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Segundo ele, a demora para elaboração dos projetos de restauro evidencia a burocracia envolvida na recuperação do patrimônio.
“Eu estou querendo reconstruir a Praça dos Três Poderes, que foi desmontada no dia 8 de janeiro de 2023, e leva um ano e meio só para se fazer um projeto. É tudo interminável e complicado”, disse.
O presidente ressaltou a importância de preservar a história e a cultura do país, mas alertou que a falta de recursos compromete esse processo. “Quando a gente tomba e a gente vai fazer um gesto para a humanidade, preservar a história e cultura, é maravilhoso. Mas depois a gente constata que a gente não tem dinheiro. Não foi colocado no orçamento, nem no governo federal, nem no estadual e na prefeitura. Ou seja, o tombamento deixa um prédio praticamente abandonado”, criticou o petista.
Lula citou o incêndio do Museu Nacional do Rio de Janeiro como um exemplo dos riscos da falta de investimento na preservação do patrimônio. “Já vimos o que aconteceu com o Museu Nacional do Rio de Janeiro. Até hoje não foi resolvido. Tive ontem reunião com os bancos públicos e o BNDES para que a gente consiga colocar um dinheiro para devolver ao povo brasileiro o Museu Nacional, que tem as coisas mais importantes do nosso país”, declarou.
Ele prestou solidariedade às vítimas do incidente na Bahia. “Lamento pela queda da igreja, toda a minha solidariedade às pessoas que foram vítimas desse incidente. Espero que isso sirva de lição para não permitir que outros acidentes aconteçam”, concluiu.