A mudança de lado do cantor e ex-deputado federal Igor Kannário, agora no PSB, pode desequilibrar a disputa pela prefeitura de Salvador e colocar em risco uma reeleição tranquila do prefeito Bruno Reis (União Brasil), como planejavam os aliados.
Kannário, que deve concorrer à Câmara Municipal, é visto como um trunfo para a campanha de Geraldo Júnior (MDB), principal adversário de Bruno, já que tem fácil penetração na periferia e apelo popular. Além disso, segundo nomes ouvidos pelo Política ao Vivo, sua língua ‘afiada’ pode se tornar uma forte arma contra o prefeito.
Um exemplo usado pela oposição é da ‘presença vip’ de Kannário em Feira de Santana, na véspera do segundo turno da eleição de 2020. Na época, o então deputado e cantor chegou de helicóptero e pediu votos para o prefeito Colbert Martins (MDB), que havia perdido o primeiro turno para Zé Neto (PT). A estratégia foi vista como o principal fator para a ‘virada’ de Colbert.
O próprio Kannário já falou publicamente, em entrevista recente, que Colbert deve a ele o resultado das eleições de 2020.
Bomba atômica e discurso duro
Antes aliado de primeira hora de ACM Neto (União Brasil), Kannário agora é apontado como um ‘fator de risco’ para o grupo político do ex-prefeito. Além do discurso ‘duro’ e direto, com ataques claros, Kannário ainda é visto como uma ‘carta na manga’ por ter convivido com o grupo por mais de uma década.
No Carnaval deste ano, pouco antes de romper oficialmente com o bloco, Kannário fez um duro ataque a Bruno em cima do trio elétrico.
“Quem paga tudo sou eu com meu dinheiro. Eu quero que vocês saibam isso. Paguei R$ 50 mil em placa de outdoor. Eu não sou amigo de Bruno Reis, não sou amigo de secretário. Todos eles só me aceitam porque vocês me amam. Só engolem o Kannário por conta do povo”, disparou Kannário no penúltimo dia de festa, durante sua famosa ‘pipoca’.
Bruno rebateu e disse que o cantor “não perde a oportunidade de falar besteira”.
O episódio é considerado o estopim para o rompimento de Kannário com Bruno e Neto. Sua ida ao PSB também aumenta a expectativa de um desempenho melhor da oposição nas urnas. A sigla socialista, que hoje tem apenas uma cadeira na Casa, com Sílvio Humberto, vê no artista a chance de aumentar a representação na Câmara e fortalecer a bancada, o que traria maiores dificuldades para Bruno em um eventual segundo mandato, caso seja reeleito.