“Ele é um idiota completo. Não merecia estar onde se encontra”. As palavras duras são do governador do Distrito Federal (DF), Ibaneis Rocha (MDB), e têm como alvo o ministro da Casa Civil, Rui Costa. O ex-governador da Bahia deu declarações questionando Brasília como sede do Governo Federal e provocou várias reações.
Durante evento em Itaberaba, na Bahia, na sexta-feira, 2, Rui Costa disse que Brasília é uma “ilha da fantasia”. “Aquele negócio de botar a capital do país longe da vida das pessoas, na minha opinião, fez muito mal ao Brasil”, afirmou.
“Era melhor [a capital] ter ficado no Rio de Janeiro, ou ter ido para São Paulo, para Minas ou Bahia, para que quem fosse entrar num prédio daquele, ou na Câmara dos Deputados ou Senado, passasse, antes de chegar no seu local de trabalho, numa favela, embaixo de viaduto, com gente pedindo comida, vendo gente desempregada”, declarou o ministro.
Ibaneis associou os ataques de Rui à inclusão do Fundo Constitucional no teto do novo regime fiscal, o que ameaça a manutenção de serviços essenciais da capital do país. “Agora já sabemos de onde vem o ataque contra o Fundo Constitucional”, afirmou o governador à coluna Grande Angular, do site Metrópoles.
O fundo é responsável pelo custeio da segurança e parte da saúde e educação do DF, que abriga uma população de mais de 3 milhões de pessoas, a sede dos Três Poderes e as embaixadas de outras nações. O arcabouço fiscal, aprovado na Câmara dos Deputados e que agora está no Senado, estabelece limite anual de 2,5% para crescimento do orçamento do FCDF. Segundo cálculos do Governo do DF, se a medida passar pelo Senado e for sancionada pela Presidência, a capital do país poderá perder R$ 87 bilhões em 10 anos.
A fala de Rui Costa também repercutiu negativamente entre outras autoridades da capital federal, inclusive aliados. O deputado federal Chico Vigilante (PT), do mesmo partido de Rui Costa e do presidente Lula, disse que a manifestação do ministro “mostra completo desconhecimento da capital federal”.
“O convido para conhecer o Sol Nascente, a Estrutural, o Pôr do Sol, e outros, para que conheça o verdadeiro DF”, escreveu o parlamentar nas redes sociais. Segundo o Censo 2022, do Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE), a Região Administrativa do Sol Nascente (DF) ultrapassou a Rocinha (RJ) e tornou-se a maior favela do país em número de domicílios.
Também do PT, o vice-presidente da Câmara Legislativa do DF (CLDF), deputado distrital Ricardo Vale, afirmou que “Rui Costa não conhece Brasília e acha que nossa cidade se resume ao Congresso Nacional”. “A fala do ministro foi infeliz, até porque, para o cidadão, não tem ilha da fantasia, mas problemas de saúde, educação e segurança”, pontuou.
O senador Izalci Lucas (PSDB) disse que o DF “não é a Esplanada”. “O DF tem 3 milhões de habitantes e mais 1,5 milhão em volta. Era bom que o ministro, em vez de chegar aqui na segunda-feira e ir embora na sexta-feira, que conhecesse um pouco a realidade do DF, que foi projetado para 500 mil habitantes e que hoje é a terceira maior cidade do Brasil e tem um povo trabalhador. Temos muitas dificuldades na cidade. Aqui, a nossa vocação é ser a capital do Brasil”, declarou.
A Ordem dos Advogados do Brasil Seccional do DF (OAB-DF) disse que Rui Costa “deveria ter a exata noção da responsabilidade que o alto cargo público para o qual foi nomeado exige”. “O respeito à dignidade de todos os cidadãos de Brasília e daqueles que são recebidos de braços abertos na nossa capital é missão institucional daqueles que foram eleitos pelo povo do país”, declarou.