O ministro da Defesa, José Múcio, afirmou que haviam militares dispostos a um golpe de Estado, mas que as Forças Armadas não foram favoráveis à ação. A declaração de Múcio foi feita em entrevista para o jornal O Globo. Ainda durante a entrevista, o ministro afirmou que houve de fato um erro na forma de conduzir frente ao acampamento de manifestantes no Quartel General do Exército em Brasília.
“Acho que cometemos um erro. Não era para ter entrado nem os ônibus nem as pessoas que vinham neles, mas as pessoas entraram […] O sucesso do dia 1º de janeiro talvez tenha nos contaminado. Foi uma posse em que ninguém desafinou”, declarou Múcio sobre manifestantes que invadiram e depredaram as sedes dos três Poderes.
Sobre os militares que tinham vontade de ir em frente com um golpe, ele afirmou que não havia nenhuma liderança para isso. “No final, me parecia que havia vontades, mas ninguém materializava porque não havia uma liderança. Você pode dizer: ‘No governo anterior havia pessoas que desejavam o golpe’, mas não havia um líder que dissesse assim: ‘Nós queremos, eu sou o chefe, vamos’. Não existe revolução sem um chefe”, declarou.
O ministro ainda detalhou as tensões existentes após os atos golpistas de 8 de janeiro. “Amanhecemos no dia 9 com o Ministério da Defesa órfão. A esquerda com horror aos militares, porque achava que eles queriam um golpe, e a direita com mais horror ainda, porque eles não deram o golpe. Eu precisava reconstruir a confiança dos políticos com os militares, e vice-versa, a partir da estaca zero”.