O índice de migração em Salvador para outras cidades do país apresenta um crescimento preocupante nos últimos anos, que pôde ser visto na discrepância entre os censos populacionais entre 2010 e 2023. A busca por um emprego e condições dignas são os motivos do movimento, contestado pela consultora de diversidade e relações étnicos raciais, Tainara Ferreira, que alega existir um problema consequente da concentração de renda na capital baiana.
“Em uma rápida observação é fácil perceber o quanto de dinheiro há em Salvador, e não é pouco! Enquanto isso, há uma parte significativa do nosso povo que não mede esforços para economizar, pois não tem renda suficiente. E muitos destes, principalmente negros, acabam indo embora de sua terra-natal para São Paulo ou Rio, buscando oportunidades para sobreviverem neste sistema”, enfatizou.
Vale ressaltar que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2021, Salvador ocupa a 8ª posição entre as capitais mais ricas do país, somando um Produto Interno Bruto (PIB) anual de mais de R$62 bilhões.
Tainara ressalta que isso também é um resultado histórico do período escravista, que dominou o país por séculos e sustenta reflexos graves para a população negra. Tendo a ascensão do capital concentrado nas mãos elite formada por brancos – que desde antes já mantinha este poder – o ‘sufocamento’ entre aqueles, oriundos das camadas mais baixas, está se tornando ainda mais evidente.
“Eu vejo muitos dizendo que há prosperidade em outro lugar e não aqui, o que eu discordo. A gente precisa brigar, o nosso movimento precisa agir também nesse ponto, porque não fazendo isso acaba concretizando o plano deste seleto grupo branco. Quem está no conforto, vai ficar ainda mais, e não podemos aceitar”, disse a especialista.
A principal causa para este clima hostil e debandada para outros polos brasileiros é a ausência de letramento racial e conhecimento da causa para se contrapor a isso. De acordo com Tainara Ferreira, Salvador tornou-se palco do neocolonialismo bem sucedido, como forma contínua e moderna do sistema racista e explorador sediado anteriormente, como capital brasileira após a invasão portuguesa.
“O povo preto se conformou com isso, que ao não ver uma alternativa acaba acatando e seguindo com que a aristocracia tanto deseja. Este êxodo é um projeto super rentável e concretiza o que já foi dito na música: ‘o de cima sobe e o de baixo desce’. Mas para quebrar essa corrente cruel é preciso se levantar, se rebelar, lutar em união em prol de um bem comum. Para isso, é preciso nos conscientizarmos”, completou.
Sobre a consultora
Mestranda em Relações Étnicos Raciais, Tainara Ferreira atua há anos em consultoria sobre esta diversidade em nossa estrutura social, com foco no letramento racial – uma forma educativa de elucidar e discutir o assunto em suas diversas vertentes, visando conscientizar a importância da luta contra a discriminação, preconceito e ódio à população negra.
Atualmente ela ministra um curso gratuito sobre letramento, disponível na plataforma EAD Ubuntu, organizado pelo Instituto Cultural Aruanda. As aulas são 100% online e não é necessário nenhum pré-requisito.
Para acompanhá-la, acesse o perfil no Instagram @intelectual_influencer, onde Tainara traz compartilha informações e reflexões em relação ao universo do combate antirrascista, seu processo histórico e sua posição na contemporaneidade.