Numa articulação liderada pelo presidente do Avante na Bahia, Ronaldo Carletto, e pelo titular da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura (Seagri), Wallison Tum, filiado ao mesmo partido, oito parlamentares de siglas que estavam na oposição nas eleições de 2022 decidiram se unir para formar um bloco informal de sustentação ao governador Jerônimo Rodrigues (PT). O grupo surge num momento em que o chefe do Executivo estadual é alvo de queixas de aliados mais antigos insatisfeitos com o atendimento do governo.
O bloco informal, que esteve com o governador nesta terça-feira (19), quando se comprometeu a votar uníssono na Assembleia, é formado pelos deputados Vitor Azevedo (PL), Raimundinho da JR (PL), Luciano Araújo (Solidariedade), Nelson Leal (PP), Felipe Duarte (PP), Binho Galinha (Patriota), Laerte do Vando (Podemos) e Patrick Lopes (Avante). Eles já vinham votando com o governo, mas agora selaram o pacto de atuar conjuntamente, o que fortalece a posição dos próprios parlamentares e de Jerônimo no Legislativo.
Desses deputados, ao menos cinco têm mantido conversas com Ronaldo Carletto visando migrar para o Avante antes das eleições de 2026: Raimundinho da JR, Nelson Leal, Felipe Duarte, Binho Galinha e Laerte do Vando. Entretanto, a formação do bloco, conforme apurou este Política Livre, não tem relação direta com o futuro partidário dos seus membros, e isso não foi colocado na mesa na articulação.
Nas últimas sessões na Assembleia, o líder do governo, deputado Rosemberg Pinto (PT), tem tido dificuldades em conseguir quórum tanto no âmbito das comissões como no plenário para votar projetos do Executivo e do Legislativo, mesmo a base aliada contando oficialmente com 42 deputados. Na semana passada, o PSD decidiu, em peso, se ausentar das votações. Nesta semana, o problema foram as ausências de parlamentares de outras legendas, inclusive do PT.
Por outro lado, os parlamentares do novo bloco informal têm dado presença e ajudado o governo nas votações, mesmo tendo as mesmas e outras queixas. Assim sendo, unidos esperam ter mais forças para serem tratados como aliados, e não meros adesistas.
“Demora muito, por exemplo, para a gente, ao menos a maioria de nós, conseguir marcar uma audiência com um secretário, passando até três meses para sermos atendidos, porque não votamos em Jerônimo em 2022. E o governador tem passado perrengue nas votações na Assembleia, mas nós temos ajudado sempre, adotando uma postura contrária à de outros aliados. Firmamos um acordo de que nós oito só votaremos juntos a partir de agora. Para não parecer retaliação ou ameaça, fomos comunicar isso ao governador, e fomos juntos”, disse ao site um dos deputados do bloco informal.
O mesmo parlamentar contou que a posição unificada vai valer não só para a votação de projetos, mas também a disputa pela cadeira do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) que fica vaga em dezembro, com a aposentadoria do conselheiro Fernando Vita, e a eleição para a presidência da Assembleia, em fevereiro de 2025, cuja discussão foi antecipada pela possibilidade de o atual chefe do Legislativo, deputado Adolfo Menezes (PSD), concorrer a uma segunda reeleição, o que exigiria uma mudança na Constituição estadual.
“Ficamos praticamente do mesmo tamanho do PSD, por exemplo, e maiores que o PP. Ou seja, poderemos ajudar mais o governo, mas também teremos mais força para sermos ouvidos”, declarou o mesmo parlamentar, garantindo que Nelson Leal e Felipe Duarte não seguirão mais a orientação do líder pepista na Assembleia, deputado Niltinho.
A princípio, a reunião desta terça-feira (19) com o governador, que tem recebido as bancadas dos partidos na Assembleia desde segunda (18), aconteceria apenas com os deputados governistas do bloco independente, este sim formal, que são Vitor Azevedo, Raimundinho da JR e Luciano Araújo – no mesmo grupo estão os oposicionistas Leandro de Jesus (PL), Diego Castro (PL) e Pancadinha (Solidariedade).
Entretanto, após a articulação de Ronaldo Carletto e de Tum, o grupo que esteve com Jerônimo foi ampliado para os oito parlamentares, quando a criação do bloco informal foi comunicada ao governador, que prometeu, assim como fez na reunião de segunda (18) com a bancada do PSD, começar a atender os prefeitos e lideranças dos deputados a partir de outubro, estabelecendo um critério. O principal motivo da insatisfação dos aliados com o governo é a falta desse tipo de atendimento, sobretudo dos prefeitos.
Jerônimo assumiu o compromisso, inclusive, de receber prefeitos e lideranças que não o apoiaram nas eleições de 2022, mas que eventualmente são ligadas aos oito deputados. O objetivo é ouvir as demandas de cada um.
Vale frisar que, por ser um bloco informal, o “grupo dos oito” não tem direito a prerrogativas que envolvem a ocupação de espaços de poder na Assembleia ou mesmo a tempo de liderança em plenário.