“Igrejas encontram espaços em vazios culturais”: essa fala da ministra da Cultura, Margareth Menezes, causou um verdadeiro rebuliço na Câmara Municipal de Salvador, nesta segunda-feira (25). Acontece que a opinião dada pela baiana em entrevista à BBC, no último dia 18, foi “lida” de formas diferentes pelos vereadores da Casa.
Alexandre Aleluia (PL), usou seu momento na tribuna para repudiar a fala, acusando a cantora de “arrogância” e de ir de encontro com os anseios cristãos. “Mostra, inclusive, arrogância da ministra da Cultura (…) na verdade, ocupar espaço é o cristianismo. O vazio vem exatamente da produção cultural em torno de uma agenda subserviente a um partido, a militância, a propaganda, isso que é vazio cultural”, disse Aleluia.
Ainda em seu discurso, o vereador citou Salvador como um exemplo de que a cultura e o cristianismo caminham junto, citando, inclusive, o filósofo e escritor russo, Fiódor Dostoiévski. “Inclusive, cultura sem culto, a cultura vira um mero adereço, uma pedra, um petróleo, e essa frase não é minha, é de Dostoiévski. [Margareth] vem falar de maneira arrogante, tacanha, que isso é ocupar um vazio. Um absurdo!”, bradou o edil.
Entretanto, o vereador Silvio Humberto (PSB) disse que o colega “colocou palavras na boca da ministra”, com o intuito de “adequar a fala a sua retórica política”. “Eu sei que a ministra não precisa de defensores aqui, porque o seu trabalho já demonstra o que ela é, e o que ela tem feito à cultura, mas é importante deixar registrado aqui”, começou o líder da oposição.
“A pergunta feita pela BBC foi: ‘Nas periferias, as igrejas acabaram por suprimir os vazios da demanda por bens culturais’. As igrejas estão a suprir, ou seja, a ocupar os espaços que o Estado deveria prover, e quem está fazendo isso são as igrejas. De que forma? Na área da música, na área do teatro, com toda a sua ação social que as igrejas fazem. E aí, Margareth apenas responde: ‘as igrejas encontram espaços vazios, encontram espaços vazios culturais que podem ser ocupados por equipamentos. Qual é o problema disso? Ela está reconhecendo o trabalho relevante das igrejas”, disse o vereador.
“Eu acho que falta ler e interpretar, porque às vezes a gente lê e não sabe interpretar. Ou interpreta de acordo dos nossos olhos, da nossa visão. A assanha é tão grande de encontrar aquele ‘cabelinho ali no ovo’, que aí a gente se esquece de ler com cuidado e a gente precisa ter uma certa responsabilidade”, alfinetou Humberto.