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MAIS COMPLACENTE QUE A TRAGÉDIA DOS PRÓLOGOS POLÍTICOS – O SILÊNCIO…

por Redação

Os enfadonhos discursos políticos têm causado náuseas, pois repetitivos e dissimilados. Buscam incessantemente engazopar a sociedade. Já não percebem como são contraproducentes. Sinceramente? O silêncio evidencia-se mais profícuo, ou quem sabe, ao invés de sermos compelidos a assistir, trocássemos por música. Obviamente que a música impõe sutilmente forma ao silêncio…

Há momentos em que precisamos mergulhar na nossa inquietação, noutros, na súbita introspecção para buscarmos a nós mesmos… Os sons falaciosos agridem os tímpanos mais resistentes, não há razão para que possamos desprezar a musicalidade que insiste em nós, tampouco darmos eco à ausência abrupta do som. Aqui, refiro-me ao simples diálogo ou aos cansativos e repetitivos discursos políticos.

Hoje prefiro silenciar, buscar as minhas idiossincrasias mais fugazes para conviver com as agruras perpetradas pela dissimulação! Traz riqueza para a alma concordar com Aldous Huxley quando, eficazmente, profetizou: “O silêncio está tão repleto de sabedoria e de espírito em potência, como o mármore não talhado é rico em escultura”. Sinceramente, o silêncio é inescrupuloso quando se transveste em confissão, será que há poesia nas incoerências? Há riqueza na cafajestagem? Provavelmente não, ainda que possamos encontrar situações análogas à esta!

Mário Quintana enobreceu os poetas quando afirmou que os mesmos estariam sujeitos a ataques súbitos de levitação. Inclusive, o de que eles – os poetas – mais gostam, é estar em silêncio – um silêncio que subjaz a quaisquer escapes motorísticos e declamatórios. Um silêncio repulsivo e incrédulo, típico dos corações mais intrépidos, obsequiado por este impoluível silêncio em que escrevo e em que tu me lês. Fantástica adequação, haja vista que as mentiras mais cruéis são frequentemente ditas em silêncio…

Acostumar-se é tarefa árdua! Não há porque pensar-se tão friamente. Tentando entender a verdade, vê-se que a mesma, muitas vezes, se revela no vazio dos sons… Poder-se-ia pensar que há fortes indícios de mau interpretação, ou que o vácuo seja tamanho que não permita o diálogo consistente! Também já não há o querer para este entendimento. Das maiores virtudes do ser humano, posso, provavelmente elencar o vocabulário, a riqueza e a harmonia do que deixou de ser dito.

Sim, há crueldade em muito do que se pensou dizer e não se proferiu. Finalizo profetizando uma das frases mais sublimes de Fiódor Dostoiévski “Sou mestre na arte de falar em silêncio. Toda a minha vida falei calando-me e vivi em mim mesmo tragédias inteiras sem pronunciar uma palavra”. Assim deveríamos absorver os tristes, vazios de moralidade e inquietantes discursos proferidos sem qualquer compromisso com quem os ouve.

Por André Curvello – Advogado e Colaborador do Liberdade de Imprensa.

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