Alvo de cobiça do centrão, às vésperas de votações importantes para o presidente Lula (PT) na Câmara dos Deputados, o governo liberou R$ 465 milhões da verba do Ministério da Saúde. Contudo, não passou despercebido, o estado de Alagoas, reduto do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), ter abocanhado a maior fatia do bolo: R$ 107 milhões.
Além de ser o estado de Lira, Alagoas é reduto eleitoral do líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões Jr. Ele foi relator da MP (medida provisória) dos Ministérios, que tratava da estrutura do governo Lula. O Planalto passou sufoco para conseguir aprovar o texto em meio a revolta do centrão com a demora na liberação de cargos e emendas.
Conforme a Folha de S.Paulo, pessoas envolvidas nas negociações políticas dizem que a elevada parcela para o estado nordestino é explicada ainda pelo envio de dinheiro para projetos de novatos, como Alfredo Gaspar (União Brasil).
A pasta tem R$ 3 bilhões herdados pelo governo pelo fim das emendas de relator – principal moeda de troca nas negociações entre Jair Bolsonaro (PL) e os parlamentares.
O ministério, comandado por Nísia Trindade, era foco de reclamações de cardeais do Congresso por, até semana passada, não ter liberado nada desse dinheiro, que, apesar de não ter o carimbo de emenda parlamentar, tem sido usado por Lula na articulação política.
A fatia destravada deve chegar a R$ 600 milhões até o fim da semana, quando a Câmara pretende votar três projetos econômicos considerados essenciais para Lula, entre eles a reforma tributária.
As negociações em torno dos bilhões de reais herdados pelo chefe do Executivo após a extinção das emendas de relator beneficiam aliados do Palácio do Planalto, de Lira e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Parlamentares próximos à cúpula dos dois Poderes conseguem enviar mais dinheiro para financiar projetos e obras em suas bases eleitorais.
Nísia começou a abrir o cofre de R$ 3 bilhões após pressão do centrão. Ela inclusive chegou a se reunir com Lira em 21 de junho. Poucos dias antes do encontro, integrantes da Secretaria de Relações Institucionais, responsável pela relação com o Congresso, foram ao Ministério da Saúde para organizar e priorizar os pedidos de prefeituras para receber parte do dinheiro.
A primeira grande derrota a Lula no Congresso foi imposta no dia 3 de maio. Na ocasião, 295 deputados derrubaram trechos de dois decretos editados pelo presidente, com regras vistas por parlamentares e pelo mercado como afronta ao Marco Legal do Saneamento, em vigor desde 2020, por dar sobrevida à operação de estatais. E a pressão permaneceu em outras votações como a MP dos Ministérios, portanto, essa seria uma forma de não mais passar por tensões semelhantes e, reunir as esperadas condições de governabilidade.